Nézio Firmeza
Introdução
Na caminhada cristã, existem tensões que precisam ser equilibradas, e uma delas é a relação entre autoridade e autonomia. A Bíblia nos ensina, entre outras coisas e depois de falar sobre o fruto do Espírito, a respeitar a autoridade estabelecida por Deus (Romanos 13:1), mas também valoriza a liberdade e a responsabilidade individual (Gálatas 5:1).
Entretanto, quando a autoridade é levada ao extremo, sem zelo pelo rebanho e com uma visão distorcida de Deus, pode se tornar autoritarismo, sufocando a liberdade dos crentes. Por outro lado, quando a autonomia se transforma em independência desenfreada, pode levar ao anarquismo espiritual, onde cada um faz o que quer sem prestar contas a ninguém.
Como podemos encontrar o equilíbrio? Como viver sob autoridade sem cair no autoritarismo? Como exercer nossa autonomia sem nos tornarmos anárquicos espiritualmente? Este texto é uma tentativa de responder a essas perguntas, sobretudo à luz das Escrituras.
—
O Conceito Bíblico de Autoridade
A autoridade é um princípio estabelecido por Deus. Ele criou ordem no mundo e delegou liderança a pessoas para o bem do Seu povo. No Antigo Testamento, vemos Deus estabelecendo reis, sacerdotes e profetas. No Novo Testamento, Cristo assume a autoridade suprema:
> “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.” (Mateus 28:18)
Além disso, Deus designa Apóstolos, pastores, líderes espirituais para orientar a igreja:
> “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas.” (Hebreus 13:17)
No contexto evangélico reconhecemos que a autoridade espiritual deve ser exercida em amor, sob a direção do Espírito Santo.
Não nos falta exemplos de homens do passado e também do presente que pautaram suas vidas pelo exemplo da fé e da piedade, e estes com seu exemplo de liderança trouxeram e trazem tantos benefícios ao corpo de Cristo.
—
O Perigo do Autoritarismo
O autoritarismo ocorre quando a autoridade se torna opressiva, sufocando a liberdade e impondo regras humanas como se fossem divinas. Jesus condenou esse tipo de liderança nos fariseus:
> “Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar e os põem sobre os ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los.” (Mateus 23:4)
Pedro também advertiu os líderes:
> “Não como dominadores sobre os que lhes foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho.” (1 Pedro 5:3)
O autoritarismo pode gerar medo, conformismo e dependência excessiva dos fiéis em relação aos líderes, impedindo que desenvolvam um relacionamento pessoal com Deus. No meio evangélico onde o mover do Espírito é essencial, um ambiente autoritário pode inibir a espontaneidade da adoração e a liberdade na busca pela presença de Deus.
—
O que a Bíblia fala de Autonomia
A Bíblia ensina que cada crente tem um chamado individual e que Deus concede autonomia para que sejamos responsáveis por nossas escolhas:
> “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a um jugo de escravidão.” (Gálatas 5:1)
O Espírito Santo nos guia pessoalmente, sem que precisemos depender exclusivamente de uma autoridade humana:
> “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus.” (Romanos 8:14)
Uma igreja pentecostal enfatiza o sacerdócio universal dos crentes, incentivando cada pessoa a desenvolver intimidade com Deus e buscar Sua direção direta sempre com humildade e amor
—
O Perigo do Anarquismo Espiritual
Por outro lado, quando a autonomia é levada ao extremo, pode gerar anarquismo espiritual, onde cada um segue apenas suas próprias opiniões sem prestar contas a ninguém. Isso pode levar a divisões e heresias, como aconteceu nos tempos dos juízes:
> “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia certo aos seus olhos.” (Juízes 17:6)
O anarquismo espiritual pode se manifestar de várias formas:
Rejeição da liderança eclesiástica, acreditando que não há necessidade de pastores ou mentores espirituais.
Interpretações bíblicas isoladas e subjetivas, sem considerar o contexto e a tradição da igreja.
Resistência à disciplina espiritual, recusando correção e crescimento sob orientação de irmãos mais maduros.
No meio pentecostal, isso pode levar a um emocionalismo descontrolado, onde experiências pessoais são colocadas acima da Palavra de Deus, resultando em confusão e distorções doutrinárias.
—
O Espírito Santo Como Equilíbrio Entre Autoridade e Autonomia
O Espírito Santo nos ensina a viver nem sob o jugo do autoritarismo, nem no caos do anarquismo espiritual. O equilíbrio se dá quando:
1. A autoridade é exercida com humildade e serviço. Jesus lavou os pés dos discípulos para ensinar que a liderança no Reino de Deus não é opressora (João 13:14-15).
2. A autonomia é vivida em submissão a Cristo. Mesmo sendo o Filho de Deus, Jesus se submeteu ao Pai (João 5:19).
3. O Espírito Santo guia tanto os líderes quanto os crentes. No Concílio de Jerusalém (Atos 15), a igreja buscou a direção do Espírito para tomar decisões importantes.
—
O Equilíbrio Pentecostal: Submissão e Liberdade no Espírito
O movimento pentecostal nos ensina que a autoridade espiritual deve ser reconhecida, mas a autonomia dos crentes também deve ser respeitada. O apóstolo Paulo resume bem essa relação:
> “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1 Coríntios 11:1)
Aqui, Paulo não impõe sua autoridade de maneira opressiva, mas a submete à autoridade de Cristo.
A igreja precisa de líderes que sejam exemplos e de crentes que exercitem sua autonomia de forma responsável, sempre buscando a voz do Espírito.
—
Conclusão
A relação entre autoridade e autonomia é um desafio para a vida cristã. Quando a autoridade é mal exercida, nasce o autoritarismo. Quando a autonomia é mal utilizada, surge o anarquismo.
O equilíbrio é encontrado quando a autoridade é exercida com humildade e a autonomia é vivida com responsabilidade diante de Deus.
O Espírito Santo nos guia nessa caminhada, ajudando-nos a reconhecer a liderança legítima sem cair no autoritarismo e a desenvolver nossa liberdade em Cristo sem cair no anarquismo. Como crentes pentecostais, somos chamados a viver nesse equilíbrio, sempre ouvindo a voz do Senhor e seguindo Sua direção.
Que Deus nos ajude a caminhar com autoridade e autonomia, mas sempre guiados pelo Espírito Santo!